19 de julho de 2021 #Conhecimento e ciência

O mordomo das plantas nativas da Antártida

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A bióloga Marely Cuba supervisiona um laboratório da Universidad de Concepción que abriga mais de 15.000 espécimes das duas únicas plantas com flores nativas da Antártica. Seu trabalho é fundamental para a preservação da biodiversidade do território.

Apenas duas espécies de plantas com flores nativas crescem na Antártica: Deschampsia antarctica, a grama peluda da Antártica, uma gramínea semelhante ao trigo; e Colobanthus quitensis, a erva perlada da Antártica, um membro da família dos cravos.

Após sua primeira viagem à Antártica em 2009, a bióloga Marely Cuba criou sua coleção de plantas nativas do continente branco. Atualmente, ela cultiva mais de 15.000 espécimes de plantas no laboratório do campus da Universidad de Concepción Los Ángeles, onde é pesquisadora e professora permanente. Seu objetivo é estudar as características únicas das espécies capazes de sobreviver em condições climáticas extremas.

"Elas são as duas únicas plantas que vivem naturalmente na Antártica. Portanto, elas estão nos dando pistas sobre algumas das características especiais que possuem e que lhes permitem viver e se adaptar a essas condições, que são muito extremas para outras plantas. Deve haver algo muito especial que lhes permita viver e crescer nessas condições", afirma o cientista cubano. A Dra. Cuba chegou ao Chile há 23 anos para concluir seu doutorado em Bioquímica na Universidade do Chile. Atualmente, ela vive na região do Biobío.

A Dra. Cuba explica que uma das vantagens de cultivar e propagar essas plantas em um laboratório é que ela pode realizar sua pesquisa sem viajar constantemente para a Antártica, reduzindo assim sua pegada de carbono e o impacto humano no território onde essas espécies crescem.

Com relação aos efeitos do aquecimento global, o Dr. Cuba afirma que essas plantas antárticas têm a capacidade de se adaptar às mudanças e são resistentes o suficiente para continuar a crescer sob novas condições ambientais. Em algumas áreas, a população dessas espécies até aumentou. Entretanto, o principal perigo que elas enfrentam como resultado de condições mais favoráveis é o surgimento de novas espécies que podem se tornar invasivas e competir com as plantas nativas da Antártica.

A Dra. Cuba e seus alunos cuidam das milhares de plantas do laboratório. Durante a pandemia, a universidade suspendeu o ensino presencial e a pesquisadora teve de tomar medidas adicionais para cuidar das plantas da Antártica. Ela chegou a levá-las para casa para trabalhar com elas durante o dia, antes de devolvê-las ao laboratório todas as noites. "É um trabalho divertido, mas muito detalhado", explica Marely, vencedora em 2018 do Prêmio de Ciências Antárticas concedido pelo Instituto Antártico Chileno.

"O patrimônio genético de um país é de suma importância, pois faz parte da conservação da biodiversidade", explica a Dra. Cuba. Ela acrescenta que atualmente está trabalhando em um projeto em colaboração com o Centro de Pesquisas Científicas de Yucatan, no México, com o objetivo de decifrar os mecanismos que permitem que essas plantas respondam à salinidade.

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