23 de julho de 2018 #ChileDiverse #ChileGlobal

Carménère: um vinho chileno único

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A história da uva Carménère é especial. Reconhecida como a mais complexa de todas as uvas no que diz respeito à maturação, ela sofreu como nenhuma outra com os efeitos da filoxera, uma praga que afetou a Europa entre 1860 e 1870, especialmente a França, de onde é originária. A magnitude do desastre foi tão grande que os gauleses, cansados das complexidades da Carménère, decidiram abandonar seu cultivo, razão pela qual se pensou que a Carménère havia desaparecido para sempre.

Entretanto, dez anos antes, algumas videiras dessa uva haviam sido enviadas para o Chile. Como resultado da crise na Europa naquela época, um grande número de produtores de vinho do velho continente emigrou para o país sul-americano, dando um vigoroso impulso ao emergente e já poderoso setor vinícola chileno.

No entanto, apesar dessa presença maciça de pessoal altamente treinado, o Carménère foi ignorado. O motivo? Ninguém notou sua presença e ele foi plantado ao lado das videiras de Merlot y Cabernetde modo que, por muitos anos, foi comercializado como essas variedades.

Levaria mais de um século para que o segredo dessa uva fosse revelado, sendo que até então apenas alguns vestígios eram mantidos para estudos acadêmicos na Universidade de Bordeaux, região da França onde era produzida em larga escala. Especificamente, em 1991, o ampelógrafo francês Claude Vallat apontou que um determinado Merlot produzido no Chile não era um Merlot, mas não conseguiu determinar a qual variedade de uva ele realmente pertencia.

"Em 1992, no guia de vinhos, descobrimos que o Merlot que provamos às cegas tinha um sabor esverdeado, um sabor de páprica, que é sinônimo de imaturidade e que é a característica essencial do Carménère. Procuramos todas as explicações possíveis, que fosse o solo, que fosse o clima", diz Héctor Vergara, presidente da Associação de Sommeliers do Chile. Associação de Sommeliers do Chile.

Dois anos depois, Jean Michel Boursiquot, discípulo de Vallat, finalmente conseguiu determinar que algumas variedades de Merlot chileno realmente correspondiam à variedade de uva Carménère, que já havia desaparecido na Europa. Embora a informação tenha gerado alguns problemas na indústria, que foram rapidamente superados, a verdade é que as possibilidades e as perspectivas de negócios dessa nova realidade eram enormes para a indústria chilena, no que se refere à produção dessa variedade de uva em particular.

Mas não foi um processo fácil: "A mudança foi gradual porque, no início, as plantações eram normalmente feitas junto com o Merlot", diz Vergara. "Houve todo um processo em que tivemos que separá-lo primeiro, depois plantá-lo e certificar que era realmente Carménère", acrescenta o sommelier.

Visão geral atual

A incerteza que dominava o setor naquela época rapidamente deu lugar à ação. Hoje, no país, há mais de 8.000 hectares plantados e reconhecidos como Carménère. "O Chile é o país que se identificou com essa variedade como um elemento diferenciador de seu setor", diz o sommelier Ricardo Grellet. "Se suas estatísticas de crescimento forem mantidas na próxima década, ela poderá até mesmo ultrapassar os 27.000 hectares plantados com Cabernet Sauvignon", explica o especialista.

Todo esse compromisso com a quantidade foi devidamente acompanhado pela melhoria contínua dos vinhos Carménère. "No início, como não sabíamos como trabalhá-la bem, nem conhecíamos os melhores lugares para o desenvolvimento da videira, nossos vinhos eram um pouco verdes", ressalta Vergara. Agora esse sabor está desaparecendo, mas não devemos forçá-lo a amadurecer demais, pois ele perde sua essência, que é justamente o sabor esverdeado", acrescenta o sommelier.

Futuro promissor

Vergara acredita que o potencial do Carménère é enorme, pois o Chile é o único país que o produz. "Os mercados internacionais estão sempre em busca de novos produtos e o Carménère faz exatamente isso. Embora a Cabernet Sauvignon seja considerada a variedade de uva número um, não é menos verdade que ela é produzida em mais de quarenta países. Nossos Syrahs são fantásticos, mas a Austrália já tomou essas bandeiras, enquanto o Malbec é associado à Argentina, nós somos únicos no Carménère", diz ele.

Mas esse não é o único motivo. Também não é fácil que apareçam concorrentes, pelo menos em curto prazo, para o Carménère chileno, pois sua produção é muito cara. "No clima europeu, é quase impossível que ele amadureça, pois precisa de muitas horas de sol, o que é uma vantagem", explica o sommelier. "No início, enviávamos vinhos bastante verdes porque não conhecíamos todo o ciclo vegetativo da planta. Isso nos prejudicou, especialmente nos Estados Unidos, mas acho que vamos conquistar esse mercado, pois a qualidade dos vinhos é muito maior do que há dez anos", ressalta.

Por essas razões, ele aposta no Carménère como ponta de lança para a abertura de novos mercados para a indústria chilena. "Se eu vendo vinho, o Carménère é sempre uma novidade, serve como ponta de lança, se eu quiser abrir um mercado posso apresentar o Carménère e depois apresentar meu portfólio de produtos. O Chile é reconhecido no comércio internacional como o país do Carménère", conclui Vergara.

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